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CONTO ERÓTICO

Meu adorvel mich

Meu adorável michê

   Meu adorável michê não me ligou mais. Hoje faz oito dias que o conheci. Ontem ele me ligou pela última vez, e como ele mesmo disse: Então somos nós. Conheci meu adorável michê na porta de um bar, um bar gls. Um rostinho lindo. Uma voz encantadora. Ele já tinha tomado algumas cervejas.

   Meu adorável é de São Paulo, está passando uns dias de férias aqui. Sim, eu já havia sacado que ele e o amigo eram ou queriam passar por garotos de programa. Não garotos que vivem de fazer programa, mas garotos que fazem um programinha para ter uma grana extra. Eles fizeram com que eu soubesse. Indiretamente. Eu, bem, enquanto não dissessem nada diretamente,  não teria como saber de nada. Nunca sei o que não quero saber, nunca lembro o que não quero lembrar. É uma boa filosofia de vida.

   Comecei a conversar com os dois. O outro não me interessava. Meu adorável michê já havia sacado que eu estava encantado por ele. Estilo roqueiro. De fato ele toca numa banda. Escreve. Compõe. É um artista. Por que michê? Essa pergunta insistia na minha cabeça. Um michê tão especial. Tão adorável. Sim, eu estava seduzido. Encantado. Quer ir ao meu apartamento tomar cerveja comigo?. Ele aceitou meu convite. Moro há duas quadras do dito bar.

   Caminhamos conversando até meu apartamento. Eu cada vez mais encantado com ele. Ele indo comigo. Entreguei uma cerveja, peguei outra pra mim. As demais ele mesmo pegou na geladeira. Às vezes ele tomava da minha lata, outras ele oferecia a dele pra mim. Encantador, hum? Um michê que escreve, que lê, que tem cultura. Um menino muito querido. Fui para o ataque.

   Desci a mão pelo corpo dele, ele estava em pé a minha frente, tocando o tórax, o abdome e chegando lá. Senti o pau dele passando de mole para duro muito rapidamente. Ele estava excitado. Abri a bermuda dele. Tirei o pau pra fora. Chupei. Ele me acariciava. Até que chegamos ao ponto que para continuar era preciso tratar do valor. Ele disse que entre os michês havia uma espécie de tabela e o preço era xy reais. Ri, como se não soubesse e disse que nada feito, estava sem grana para pagar, quem sabe outro dia, talvez. Mas, ele estava me desejando. Sim, ele estava me desejando, estava com tesão por mim. E eu? É claro que estava com vontade de dar pra ele. Uma surpresa.

   Ele queria continuar, não gostava ficar tão excitado e não gozar. Oba, então goze. Pegação. Descobri que ele era mais desencanado do que eu pensava. Disse pra mim: vai, abre a sua bermuda e se masturba também. Pegação. Novamente ele me surpreende: quer que eu te faça, depois a gente acerta. Não, eu não queria pendurar a conta do michê.

   O que me surpreendeu mesmo foi à expressão - faça, ele queria me fazer, uma gíria gay, normalmente a bicha faz o bofe, a proposta dele era ser ativo, a bicha quando faz o bofe é passiva. Bem, eu não queria discutir terminologia gay. Não, não quis que ele me fizesse, deixei claro que não pagaria por nada que acontece, que tudo corria por conta dele. Ele gozou, eu gozei. Tomei banho enquanto ele fumava na janela bebendo cerveja.

   Depois do banho juntei-me a ele para ouvir as histórias da infância dele, contou que morou na região que moro, que fazia troca-troca com meninos da rua, depois quando já estava maior que comia o amigo e que continua deixando as coisas acontecerem com meninas e meninos. Faz programa para ter um dinheiro extra para sair, beber, se divertir. Talvez até goste de fazer programa, pensei.

   Contou às façanhas que fazem com mulheres, como duas, três, todas de uma vez. Depois que gozou ficou mais tempo do que eu pensava que ficaria em minha companhia. Conversamos muito. Eu cada vez mais encantado com meu adorável michê. Ele foi embora. Desci com ele até bar novamente. Depois voltei para casa. No dia seguinte ele me ligou. Nossa, descobri que adorei ouvir a voz dele. Ele queria me fazer uma visita, talvez um programinha.

   Gostei de ter ouvido a voz dele. Dei a entender que talvez no dia seguinte, no domingo, nos conhecemos numa sexta-feira. No domingo ele me ligou. Chovia bastante. Sugeri que deixássemos para segunda, ele aceitou na boa. Adorei ouvir a voz dele todos esses dias, ele me ligava mais de uma vez por dia. Na segunda inventei outra desculpa. Eu não queria pagar um michê. Mas queria o por perto. Pelo menos para ouvir sua voz. Na terça combinei encontrar ele num shopping. Fui. Conheci um amigo dele que também é faz programa. Falei que não poderíamos fazer nada, que estava sem grana. Ele entendeu na boa.

   Depois que cheguei a casa ele me ligou perguntando se poderia vir ao meu apartamento. Claro. Ele veio. Era para esperar amigo tinha saído para fazer um programa. Conversamos. Enquanto conversávamos fiz carícias que ele parecia gostar. Ele deitou no meu colo. Conversamos. Hora de ir embora. Talvez no dia seguinte. Na quarta ele me ligou. Eu realmente não estava bem. Expliquei. Ele entendeu.

   Na quinta-feira ele me ligou varias vezes. Eu não atendi o celular. Mesmo querendo ouvir a voz dele eu não atendi o celular. Até que não resisti. Atendi. Eu não conseguia mais me render aos encantos dele. Conversamos um pouco e ele perguntou: e ai, é nóis?, eu sabia o que ele queria dizer com esse é nóis. Depois das 23 horas estaria esperando ele, respondi. Então é nóis.  Deixei o valor combinado sob uma agenda na minha mesa de trabalho.

   Logo ele, meu adorável michê, chegaria para transar comigo por causa de dinheiro. Há sete dias falei todos os dias com ele, ouvi a voz encantadora dele. Sabia que às 23 horas ele chegaria, transaria profissionalmente e possivelmente meia noite ou um pouco mais, se tivesse sorte, não vendo a hora de ir embora, ele me deixaria. Com o dinheiro recebido em troca de um pouco de prazer. Sim, eu já previa o momento depois. Porque eu sabia que não teria meu adorável michê. Na verdade eu nunca o tive. Foi ele que me conquistou. Ele chegou. Dei uma cerveja pra ele.

   Não queria que a relação tivesse uma conotação comercial. Ele não parecia preocupado com isso. Não falou em dinheiro em momento algum. Mas, percebi que ele estava com um pouco de pressa. Isso me entristeceu. É claro que estava preparado para isso. Perguntei se ele tinha um horário, pressa. Tinha, precisa estar de volta ao bar 1h. Ele estava sendo mais generoso com o tempo que iria perder comigo do que eu esperava. Passaria duas horas comigo. Ele me surpreendeu. Não esperava que ele fosse me beijar na boca. Beijou. Acho que fez isso muito mais por ele do que por mim. Pegou em todo o meu corpo. Sim, ele pegou no meu pau. Achei que ele ia me chupar.

   De fato chupou, demorou um pouco e chupou com habilidade de bom chupador. Ou teria sido para provar que é um bom profissional? Talvez para compensar a dificuldade de ereção. Ao contrário do primeiro dia, que ele estava tarado, ele não conseguiu manter a ereção. Tentava, mas não era suficiente para penetrar. Para compensar ele me beijava. Não resisti e fiz um pergunta patética, perguntei se ele beija todos os clientes. Sim, foi a resposta dele, beijava todos os clientes.

   Não era o que eu queria ouvir, esperava que ele dissesse que só beijava quem ele gostava. Percebi que ele estava inquieto, preocupado com a hora, com o fato de não conseguir me comer. Talvez temesse não recebe pelo serviço não feito. Já tínhamos nos lambuzado de gel, camisinhas espalhadas. Ele sem ereção. Beijos para compensar. Fui para o banheiro tomar banho. Ele me surpreendeu de novo, entrou debaixo da ducha comigo.

   Beijos, chupadas, ora eu chupando ele, ora ele me chupando. Quando ele me chupava a ereção dele acontecia. Masturbei o para gozarmos juntos debaixo da água. Ele não conseguia. Falei que ele não precisava gozar. Ele apresentou várias justificativas - que eu já era amigo dele, portanto perdia um pouco do clima cliente-michê, que três cachorros ainda filhotes dele tinham morrido, que ele estava preocupado com o Fórum Social Mundial (pó, com o Fórum?!, foda, pensei, e eu, preocupado com o Fórum de Davos, quase disse).

   Vestidos, depois do banho, falei para ele erguer a agenda. Ele ergueu e pegou o dinheiro com a maior naturalidade. Essa cena me faz lembrar de um personagem de Dominick Dunne no livro Os Colunáveis, Gus, um escritor que pagava a prostituta habitual deixando um envelope com o dinheiro, sempre com mais que o valor combinado, no aparador do hall de entrada, assim não precisavam falar de dinheiro e nem fazer o acerto.

   Eu quis ser sutil, ele não viu problema em pegar o dinheiro e guarda na carteira sem a menor discrição. Talvez ele não goste de sexo, goste de dinheiro. Desci com ele até o portão. Estará de volta nas férias de julho. Vai embora no domingo. Não disse que nos veremos antes dele ir embora. Apenas sugeriu mantermos contato por e-mail.

   Deu-me um abraço carinhoso, encostou a cabeça no meu peito e foi embora. Hoje é sexta-feira, sexta-feira passada eu o conheci. Desde então ouvi a voz dele todos os dias até ontem. Hoje ele já não existe mais. Ontem depois que saiu daqui foi para o bar, encontrou amigos, bebeu, talvez muito. Foi embora tarde. Hoje é sexta-feira, ele é da noite. Ele e a voz encantadora dele. O meu adorável michê não é meu.

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